apalavreado

adj.m. 1.aquele que não consegue descrever com palavras, 2. eu, 3. você, 4. os humanos em geral

domingo, 27 de dezembro de 2009

Árdua Ditadura

Do homem deitado sobre o capô daquele carro eu não me lembrava sequer do nome. Das pessoas a minha volta eu sequer queria saber o nome, só sabia que aquela situação muito me incomodava. Tentava me desviar dos flashes das máquinas de tantos jornalistas que por mais que quisessem relatar que estava me defendendo, defendendo a minha integridade física e moral, iam me taxar de criminosa. Começava a imaginar as manchetes do jornal do dia seguinte e entrava em pânico.
Eles seguravam meus pulsos fortemente contra meu peito e me prensavam contra o carro. Estava começando a me sentir invadida e a achar que aquilo não era procedimento padrão. Quando todos dispersaram, um deles me levou a um carro e disse aos outros que ia fazer uma paradinha antes de irmos ao nosso destino final. Todos riram. Comecei a tremer de medo.
Estava algemada e assim ele me manteve, afinal, ele vira o que tinha acontecido com o último babaca que tentara esse tipo de coisa. Ele fez coisas inimagináveis comigo e eu só conseguia pensar o quanto queria matá-lo. Por estar me estuprando, mas - pode me chamar de falsa, podem duvidar de mim - estava ainda mais brava por ele e todos seus amigos terem estuprado não apenas a minha liberdade, mas a de todos os cidadãos dessa nação.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

És dor.

Ela entrou pela porta e a bateu sem nem pensar em trancá-la. Entrou no quarto tomando a mesma atitude e, se despindo, entrou no chuveiro. A água quente - absurdamente quente - ia escorrendo pelo corpo dela e ela, apoiando-se nas gélidas paredes do chuveiro, escorregou-se para o chão.

Com as pernas pressionadas contra o peito, ela ficou, estagnada. De olhos fechados e com as mãos os fechando ainda mais, ela parecia perdida. A água estava muito quente e, apesar de a estar ferindo, ela não queria se mover. Ficava lá, debaixo daquele chuveiro forte, encostada na parede gelada de seu banheiro. Assim ficou por horas.

Não sei dizer o que ela estava pensando, mas mesmo naquela posição frágil e vulnerável, ela parecia forte. Isso me impediu de me aproximar dela, pois ela parecia querer superar tudo aquilo sozinha. Eu deixei.

No dia seguinte, me chamando de idiota, bati a cabeça contra o espelho e, deitado no chão, quis morrer por acreditar - por minutos, minutos que poderiam tê-la salvo - que qualquer ser humano pudesse suportar tamanha dor sozinho.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Chico Xavier

- Eu gostaria de entender de onde vem e para onde vai o que escrevo.

sábado, 14 de novembro de 2009

in diferença

- Sabe uma prateleira cheia de livros pesados? É, minha cabeça andava assim. - ela dizia isso de forma calma e clara, com medo que ele a entendesse mal.
- Tudo bem...
- Não, não ta tudo bem. Você sabe que eu não sou assim.
- Eu não me importo.
- Como não se importa?
- Eu não me importo, ué.Não mais.
- Comigo?
- Com a forma como você age.
- .... Eu deveria esboçar alguma reação específica?
- Não me importa.
- Isso faz uma grande diferença pra mim

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

I

É foda quando nós mesmos esquecemos da nossa própria existência. É horrível quando tudo parece mais importante que você lembrar de respirar. É... Bem tenso. Vou ser sincero: nunca escrevi um texto que não fosse uma redação pro colégio, então, sei lá. Que bosta. Queria poder colocar em palavras alguma das coisas que se passam pela minha mente, mas montar um diário é algo tão... brega.
Acontece que recentemente eu acabei esquecendo da minha existência. E o pior não é esse período de esquecimento, mas quando você percebe que esqueceu e que provavelmente perdeu períodos preciosos da sua vida que será muito difícil conseguir de volta. Se ser ignorante é algo ruim, ignorar sua existência é pior - digo isso, pois já fui ambos os tipos. Mas quando você cai na ignorância, você não cai de propósito e você só percebe quando sai dela. Não que eu me ache um ser sem ignorância agora, mas enfim...
Sair desse momento de não-consciência-de-mim é doloroso. Alguns dizem que isso se chama maturidade, Kant chama de maioridade. Não é a primeira vez que saio da ignorância, mas tenho oscilações muito freqüentes. Queria ter uma noção eterna de quem eu sou eu. Na verdade, na verdade mesmo queria ser o que se não é.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Entra-sai

ele saiu. ele entrou.
ele sai. ele entra.
ele entra entre o mundo
ele sai de entre os muros.
ele se perde dentro de tudo.
ele se encontra no meio de nada.
ele se acha tudo.
ele não acha nada.
ele percebe o mundo.
ele nada quer perceber.
eles são nada no tudo.
e são tudo no nada.
eles querem ser diferentes.
mas são sempre iguais.
eles querem ser alguém.
mas quanto mais querem.
mais se tornam





nulos.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Que romântico

Um do lado do outro, livros abertos, nem sabiam que não estavam sozinhos naquele ônibus vazio.
Ela não imaginava que tinha alguém do lado dela até que se moveu desconfortavelmente no banco depois de uma certa passagem de um romance e seu cotovelo encostou no braço dele.
Eles se entreolharam por um breve momento, ela pediu desculpas e ele acentiu com a cabeça. Voltaram ambos pros seus livros.
Eles desceram no mesmo ponto, se olharam mais uma vez,olharam para seus livros, os abraçaram e foram embora.

domingo, 13 de setembro de 2009

Mensagem de boas-vindas àquela com quem nunca me dei bem

A primavera está aqui, ao meu lado. O cheiro da flor, que para mim já está morta há tempos, invade as minhas narinas. Não sei por quanto tempo vou aguentar mais essa primavera.
Não há nenhuma beleza notável em um dia primaveril que não seja notado em um dia de inverno. Para mim a primavera é uma desculpa pras pessoas acharem a esperança. E a esperança me deixou há muito de ser útil.
A primavera me faz pensar, a primavera me traz enxaquecacas: a primavera me faz mal. Eu quero o vento gélido do inverno que me faz sentir que não sou a única a ser fria assim. A alegria das pessoas na primavera me soa até como uma alienação. O que a primavera tem de tão especial?
A esperança não existe mais.

domingo, 6 de setembro de 2009

Um poema qualquer

E quando o dia amanheceu
e eu não tive forças pra levantar
Olhei, do sofá, para o céu

retrato.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Cotidiano

O ônibus estava parado naquele trânsito corriqueiro dos dias da semana lá pelas 18 horas. Era normal. O ônibus lotado, pessoas se apertando, olhares atravessados. Nada parecia diferente.

Do lado de fora uma criança observava o ônibus. Ela esperava sua mãe fechar a loja, observando a palma da mão de uma moça encostada na janela do ônibus.

Era a janela antes da última fileira de acentos.

Tinha um homem logo atrás da mulher. A criança não via nada, exceto a mão espalmada da moça, sua silhueta e a do homem. Estava muito escuro já e a luz de dentro do ônibus estava bem mais fraca que o normal.

A criança podia distinguir poucas coisas, mas pelo que pode ver o homem tinha uma expressão de felicidade e dor.

A mãe pegou a criança pela mão, mas a criança não parecia querer ir embora. Sem olhar para o que seu filho observava a mãe o arrastou para dentro do ônibus.

A rua estava bem mais silenciosa, pensou. A mãe colocou a criança no colo e sentou quando lhe deram lugar. A criança olhava para o fundo do ônibus e viu a mulher da mão na janela. Até hoje a criança acha que viu uma lágrima.

Quando a mulher reparou na criança, tentou desfarçar, mas só conseguia pensar e rezar para que a criança não descobrisse que aquilo era um estupro no meio de um ônibus lotado.

O desconhecido é mais fácil de se notar,mas o porquê só a criança parecia se preocupar era algo que a mulher não pode entender, pelo menos até seu suicídio, no dia seguinte.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Justiça

Acho que ela está na vida cotidiana, mas só fazemos jus a ela quando ela é içada.

domingo, 16 de agosto de 2009

Escrever em linhas tortas

Cadernos sem pautas são a melhor e mais clara idéia de expressão artística que um escritos fracassado pode ter.

Fatídico dia

Nesse dia vi você como um ser mais próximo de mim... Não sei bem como explicar, mas sempre olhei pra você e vi uma pessoa digna de ser colocada em um pedestal.
Mas nesse dia eu vi como você é uma pessoa...

Normal.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sinceridade

Não adianta querer
rimar tudo com poder
sem ao menos te ter
em meus braços e ser
tudo aquilo que você
não quer ou pode ver

Sim, isso é uma declaração. Uma carta pouco romântica de declaração.
Eu declaro, através dessas frases mal escritas, que eu não gosto (nenhum pouco) de você.

domingo, 9 de agosto de 2009

Destrocas

Hoje acordei com uma vontade imensa de lhe escrever, mas o grande problema das palavras é que elas nunca são do tamanho certo.
E se algum dia eu disser que te amo, não quer ver você na fila do meu cérebro para trocar essas palavras que lhe dei.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Mais você

Ele chegou com as mãos geladas em seus ombros. Ela estremeceu.
Ela tentou se virar. Ele acariciou seu pescoço.
Ela morria de curisidade e de tentação. Ele continuava a mover sua gélida mão pelo seu corpo.
Ela não conseguia se virar.
E ele parecia incapaz de matar.
Mas ele foi capaz.
E ela não pode sequer entender.

domingo, 2 de agosto de 2009

Sobre Machismo

Ouvi muitos dizerem que o homem com quem passei a noite passada era machista.
Achei absurdo.
Teve quem disse que ele me usou.
Outro absurdo.
Ficar falando que ele é machista ou que me usou é muito absurdo.
Eu o usei.
Eu tive o meu prazer e fui embora. Não queria que ele me ligasse.
Qual é o motivo dessa idéia fixa de que as mulheres são românticas e querem ficar com um homem forever? Machismo é achar que eu não posso ter usado ele. Absurdo.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A mulher ideal

Encontrei a mulher ideal.
Ela olhava pra mim com seus olhos escuros. Seus cabelos espalhados pelo travesseiro. Ela falava comigo com uma voz calma e sedutora. Ela não precisava mais me seduzir. Sinceramente, eu estava explodindo.
Ela pegou na minha mão - estávamos um de frente pro outro. Eu a beijei. Acho que nunca beijei tão apaixonadamente.
Paixão modo de dizer, era óbvio que aquilo era atração. E logo depois da nossa noite de amor - escritores falam fino, sexo é uma palavra muito forte - ela foi embora e não voltou mais.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Esqueser

- Que pergunta é essa?
- Isso mesmo que você ouviu... És ou quer ser?
- E o que isso tem a ver?
- Nada...
- Então porque pergunta?
- Simples: és ou quer ser?
- Quer mesmo saber?
- Quero!
- Esquecer!
- Do que?
- De que algum dia quis ser que nem você

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Temperança

A esperança é um grande mal, pois é uma lança nos corações das pessoas, mas é a única coisa que tempera a vida.

sábado, 25 de julho de 2009

O grande problema dos aforismos

É que por mais que eles tenham o prefixo de negação, são grandes foras.

Fim

Não me diga como, não me diga quando, não me diga - muito menos - o motivo.
Não me diga nada.
Se puder evitar de olhar em meus olhos, eu agradeço.
Foi assim que fui embora da vida dele. Exatamente com essas palavras. Tudo bem, talvez não exatamente com essas palavras, mas algo parecido. Talvez eu soluçasse de dor, quer dizer, de choro. Não dói dizer, dói ouvir o que as pessoas fazem.Afinal, alguém me explica porque elas nos contam? Teria sido melhor se ele tivesse simplesmente ido embora.
Precisava dizer que não sentia nada por mim?
Acho que na verdade se ele não tivesse dito eu esperaria o dia da sua volta - D. Sebastião da minha vida.
Odeio a verdade. De verdade.
às vezes queria viver na ilusão.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ridendo Castigat Mores

R entra emburrado e senta ao lado de S

S:- O que há, irmão?

R:- Tive que deixar a Universidade, pq não estou tendo aula!

S:- E o pq isso te deixa tão perturbado?

R:- Estudei tanto para entrar nela: o oásis de todo e qualquer conhecimento... Quase uma ágora...

S:- Você vai perdoar a minha ignorância, mas o que é conhecimento?

R:- São as aulas, tudo aquilo que os professores falam, os textos.

S:- Entendo... Vida e conhecimento são coisas distintas?

R:- São, né... Conhecimento é aquilo que está nos livros, vida é o que vivemos.

S:- Você não vive seu conhecimento?

R faz cara de dúvida.

C entra com um craft escrito “greve” e gritando:- Fora já, fora já daqui!

R:- Ah, lá vem aquele comunista MALA!

C:- Fora já, fora já daqui! Fora PM e a Suely!

S:- Você grita essas palavras querendo atingir a quem?

C:- Fora... É comigo?

S:- Sim, com você.

C:- A todos! Quero que todos saibam pelo que lutamos!

S:- e vocês lutam pela saída da PM e da reitora da onde?

C:- Daqui, ué!

S:- Daqui? Eu não as vejo aqui...

C:- Da USP, eu quero dizer...

S:- E com que autoridade pede a saída de ambas?

C:- Com a autoridade de aluno dessa instituição!

R:- Olha só o discursinho pronto!

S:- E os alunos dessa mesma instituição que querem que elas permaneçam no campus?

R:- É! E a gente?

C:- Eles que façam um movimento...

S:- E o movimento estudantil não é de todos?

C:- Ah, é, né... Só que...

R (gritando):- Ninguém respeita nada!

C:- Seu reaça desgraçado!!

R (para S):- Ta vendo, ta vendo? Vou fundar um Movimento e vocês, comunistas, vão desejar nunca terem falado isso de mim!

R sai batendo os pés.

C:- Eu nem me importo!

S:- Com o que?

C:- Com o que esse aprendiz de reacionário diz!

S:- Peço mil desculpas... Estou velho e minha memória muito falha... Mas o que foi mesmo que ele disse?

C:- ... er... ele disse que... bem, ele disse...

R junta G e vai para a frente de S e C e diz:- Greve?

G:- Não!

R:- Aulas?

G:- Sim!

E o G rapidamente se dispersa.

C:- O que é isso?

R:- Isso, vermelhinho sem cultura, é um flash-mob!

S:- E você saberia me explicar o que é um flash mob?

R:- São manifestações relâmpagos.

S:- E como as descobriu?

R:- Na verdade, eu descobri que isso existia depois daquela manifestação sem calças que teve aqui nos metrôs de SP, sabe...

S:- Ah, sim... Mas um flash mob não é carregado de nenhum valor político-ideológico intrínseco na sua origem?

R:- Não. São pessoas que se reúnem para fazer algo fora do comum...

S:- Então é quase uma obra de arte?

R:- Por ai...

S:- E você torna a manifestação artística, política?

R:- Eles fizeram...

S:- Eles quem?

R olha de um lado para outro, com medo de que o escutem:- Os comunistas!!

S:- Sério?

R:- É! Eles... eles... fizeram isso com... com... a greve! Isso! A greve!

S:- A greve é uma manifestação artística?

R:- É...

C:- Cala boca e vai estudar! Agora sei pq preza tanto pela aula...

R:- Ta vendo como ele me trata?

S:- Como ele te trata?

R:- Assim, com desprezo!

S:- Você considera que o trata com desprezo?

C:- Bem menos do que ele merece.

S:- O que é desprezo para você?

C:- Pra mim é ignorar, mais do que isso, é se mostrar superior.

S:- Então, se você o despreza mais levianamente do que você diz que ele merece; você não é suficientemente superior a ele para dar a quantidade de desprezo digno a ele e às suas ações?

C:- AHN?

S:- Você diz que ele merece mais desprezo do que você reserva a ele, e diz que desprezo é se mostrar superior. Se você não o despreza mais significa que você não é tão superior a ele assim?

C:- Não, você não entendeu. É tudo uma questão de metáfora: nada é o que realmente parece ser. Então, eu só finjo que sou melhor, para me MOSTRAR superior, não ser. Ai ele cai e acaba achando que seu voto não conta ou que não vai fazer diferença.

R:- Então é assim que você transforma a democracia em uma comunistacracia!

S:- Como você pode supor que seu voto não faz diferença no que acontece nessa universidade?

R:- Nada muda! São feitas trezentas assembléias enquanto os comunistas não ganham o que querem.

C:- Você não entende, não é mesmo? É uma estrutura de poder!

S:- Escuta, mas não é contra isso que vocês lutam?

C:- É... Mas temos que nos sujeitar às regras vigentes para fazermos algo. Não podemos partir logo pra revolução.

S:- Não era o que Marx dizia que devia ser feito?

C:- Ah, era, mas, veja bem...

R:- Vocês querem o poder pra vocês.

C:- E todos não queremos?

S:- Com certeza o povo quer.

C:- Nós não tiramos o poder dele.

R:- Só fizeram assembléias longas e chatas para nos afastar.

C:- Sabe política é assim: uns gostam outros odeiam. Mas todos devem participar.

S:- Não participar não é uma escolha válida?

C:- É, mas ai você complica o andamento do governo, quer dizer, da universidade.

S:- De que maneira?

C:- Opinião pública. Ai vem a imprensa falar que são alguns baderneiros...

R:- E não são?

C:- Pode até ser que sejam poucos, mas a revolução começa da minoria!

S:- Pensei que não iam começar com revolução...

C:- É, mas a gente precisa de meios democráticos para conseguir modos legais de se manifestar.

R:- Manifestações não são ilegais... É só vocês não falarem em nome da MINHA Universidade.

S:- È sua?

R:- É claro!

S:- E os outros cidadãos brasileiros?

R:- Quando eles entrarem aqui será deles também.

S:- A universidade não é pública?

R:- Ah, é né... Só que eu que estudo aqui...

S:- E deveria ser diferente?

R:- Claro que não! Eu passei no vestibular! É meu mérito!

S:- Educação por mérito e privilégio é correto?

R:- Ah... Bem...

C:- Por isso eu odeio vocês, de direita! Vocês não têm consciência de que vivem em sociedade!

R:- E vocês ficam só na teoria...

C:- Quando a gente tenta fazer algo tem alguém nos criticando

S:- Se não conseguem fazer nada com crítica, talvez nem deveriam tentar.

C:- Ah, mas nem pra nos ajudar...

S:- E qual o primeiro passo que eles devem dar para ajudar vocês?

C:- Não sei...

R:- eu não faço nada pra ajudar esses vermelhinhos...

S:- Que tal vocês conversarem bastante?

R:- Para que?

C:- É! Pra que? O movimento vai super bem sem eles!

S:- Não é o que parece. Não acham que se houver o diálogo entre vocês, você (olha pro reaça) poderia fazer com que eles parassem de falar em seu nome, sobre coisas que não acredita e voltar a ter aula?

R:- Sim

S: - E você (pro comunista) não acha que assim poderia modificar o modo que está a cada dia se provando mais ineficiente, pois pouco consegue atingir as pessoas dentro e fora da universidade?

C:- Sim

S:- Pode beijar a noiva.

Carta Aberta (23/06/09)

Tendo plena noção de que esta carta tem pouquíssima chance de ser publicada em algum meio de comunicação mais influente, a inicio com uma crítica justamente ao escasso espaço destinado às opiniões dos cidadãos dessa sociedade.

O quão triste é ler um jornal, uma revista, ou até mesmo um blog com pretensões jornalísticas com vários espaços destinados a uma mesma idéia? Fiquei bastante chateada, principalmente porque costumava acreditar que as pautas que impulsionam o Movimento Estudantil (ME) na Universidade de São Paulo (USP) atualmente poderiam ser resolvidas pelo diálogo, que os estudantes podiam inserir suas idéias na mídia e dizer o porquê de se colocarem contra, por exemplo, a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP).

O que a nossa reitora professora doutora Suely Vilela mostrou no momento em que permitiu que a Polícia Militar (PM) entrasse no campus Butantã da USP foi que esse diálogo não iria acontecer. Confesso que só então mudei a minha opinião e me posicionei a favor da greve, pois realmente acreditava – como estudante de Letras – na conversa.

A polícia foi sim chamada para cumprir um processo de reintegração de posse, mas é importante que pensemos nos motivos pelos quais os funcionários faziam os piquetes e até que ponto eles interferiam no direito das pessoas de ir e vir, já que eles não eram violentos e eram feitos através de conversa. Mais importante ainda é pensar na reação de todos os outros “habitantes” da “cidade Universitária”: a polícia lá causou muito desconforto.

Além disso, é muito importante que lembremos que a USP foi criada para ser autônoma e quando a reitora chama a PM ela inverte os poderes da Universidade e mostra a sua submissão ao governo. Existe a polícia do campus que podia lidar com esta situação. Fazendo isso, a reitora se destituiu do cargo, sendo assim, eu não me sinto mais representada por ela.

No dia nove de julho (09/06) estava programado um ato de estudantes, funcionários e alguns professores das faculdades estaduais (USP, UNESP e UNICAMP) no portão um do campus Butantã. A polícia estava em posição de choque e a ato se restringiu a palavras de ordem como: “Fora PM”, “Fora Suely”, “A culpa é sua, hoje a aula é na rua”, “Conhecimento sim, polícia armada não” – com os livros levantados, “Quem não pula é PM” e outras palavras que podem ter soado um pouco mais agressivas como quando chamavam os policiais de coxinhas.

Um desentendimento entre os manifestantes na hora de encerrar o ato acabou fazendo com que o movimento se dispersasse. Se houve ou não provocação por meio de alguns manifestantes não é exatamente o caso, mas supondo que este realmente aconteceu veja a generalização que a mídia fez dizendo que “o movimento estudantil é isso ou aquilo” e que “isso não é estudante, estudante é aquele que está na sala estudando” (e não defendendo o seu ideal de Universidade e seu local de estudo).

A polícia reagiu às (possíveis) provocações de um determinado grupo e, segundo as notícias divulgadas, fez isso apenas para dispersar o movimento – que já estava disperso. A correria se estendeu até o prédio da História e Geografia onde estava acontecendo uma reunião da Associação Docente da USP (ADUSP). Ao ser informada e perceber o que estava acontecendo a diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas desceu do prédio para conversar com os policiais que atiravam bombas de efeito (i) moral e de gás lacrimogêneo dentro do prédio quando foi bombardeada[1].

Os fatos decorrentes dessa entrada da PM comprovaram ainda mais a relutância da reitora e do governo em que esse diálogo acontecesse: as negociações com o FÓRUM DAS SEIS permaneciam fechadas e a imprensa se mostrava cada vez mais parcial. Confesso que isso me deixou muito chateada e pouco esperançosa. Cartas de diversos professores das mais variadas faculdades e universidades rodaram entre os e-mails dos estudantes e alguns chegaram à mídia, mas esta não manifestou interesse em publicá-las (salvo algumas como a carta do professor Safatle, do departamento de filosofia da FFLCH).

Hoje, uma semana antes do término das aulas na Universidade, a situação é outra. As negociações foram reabertas, a polícia foi retirada do campus nos dias de negociações (e os piquetes suspensos). Ou seja, a reitoria está se abrindo para o diálogo novamente.

A questão que mais me preocupa é: e se a reitora, o governo e a imprensa conversar com os funcionários, com os professores e se “esquecerem” dos estudantes pois são um “bando de baderneiros que tem é que estudar”?

Não devemos deixar que o movimento morra e muito menos nos esquecermos de uma das nossas principais pautas: a UNIVESP. O projeto da Universidade Virtual tem uma maquiagem democrática de acesso à educação, porém, ela acaba formando um círculo de precarização cada vez maior, uma vez que é um curso feito para suprir as vagas para professores da escola pública.

Falando pelo prédio de Letras, que não possui salas e cadeiras suficientes para sequer o ensino presencial, que infra-estrutura ele teria para receber o equipamento para o ensino à distância?

Mesmo que o projeto da UNIVESP não possuísse nenhuma falha, é preciso que se melhore o ensino presencial, aumente o número da vagas do mesmo para então aplicar um ensino à distância, caso contrário, se criará um ensino à distância precário. É importante lembrar, porém, que “estudante é aquele que está na sala de aula estudando”, segundo a mídia. Então pensaríamos: o ensino à distância faz com que a pessoa seja estudante?

Brincadeiras à parte, eu acredito, como futura professora, que a educação está além da sala de aula, está na convivência, na própria vivência com o Movimento Estudantil. O ensino à distância deveria ser aplicado como especialização e não como um curso de licenciatura, já que o contato professor-aluno, aluno-aluno se aprende muito com a vivência.

Escrevo hoje essa carta à comunidade, apenas como um desabafo. Acredito que para muitos estudantes será apenas uma repetição do que foi dito em assembléias e lido em fóruns de discussão, mas aparentemente, para a mídia isso é novidade.

Queria também manifestar meu repúdio aos atos abertamente antidemocráticos[2] que estão acontecendo, meu repúdio à parcialidade da mídia e principalmente meu apoio a qualquer pessoa ou movimento que esteja à procura de diálogo para fazermos do ME um movimento que possua forças para construir uma Universidade melhor.

Paula de Camargo Penteado

Letras – USP

23/06/09



[1]Comunicado da Direção da Faculdade de Filosodia, Letras e Ciências Humanas


Diante da gravidade dos acontecimentos ocorridos no campus da USP, na tarde de 09/06/2009, a direção da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, as chefias de Departamentos e as Presidências das Comissões Estatutárias, reunidas em 10/06, vêm a público para manifestar o seguinte:

1. Por volta das 17hs, mesmo com a tentativa de mediação da direção da FFLCH junto ao comandante do efetivo da PM, bombas de efeito moral foram atiradas sobre o estacionamento do prédio de Geografia e História, tendo seus gases invadido o edifício, onde se encontravam muitos professores, alunos e funcionários de nossa unidade.


2. Independente das causas que tenham originado tal atitude, esta se constituiu numa agressão física e moral à Faculdade. Não podemos aceitar passivamente um ato violento que agrida um espaço que foi constituído para o pensamento e reflexão.


3. Inquieta-nos o fato de ser a primeira agressão direta sofrida pela faculdade desde 1968. Acreditamos ser urgente encontrar formas de reabrir o diálogo de modo a permitir que os meios tradicionais e próprios da comunidade universitária de resolver conflitos se imponham sobre a força.


4. A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas em seus 75 anos de história conseguiu se transformar num patrimônio cultural do Brasil. É responsabilidade de todos nós, professores, alunos e funcionários da USP, encontrarmos meios deafastar todas as formas de violências do campus para preservar a Universidade como um espaço plural e democrático de geração e transmissão do saber.

Profa. Dra. Sandra Margarida Nitrini

Diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas”

[2] " Grupos antigreve marcam novo ato na USP

Terceiro protesto contra a paralisação foi marcado para a próxima quinta-feira, em frente à Faculdade de Economia

Um dos grupos tem 665 membros na comunidade do Orkut e diz ter reunido 3.000 adesões em abaixo-assinado contra a paralisação na USP

DA REPORTAGEM LOCAL

Nos últimos dias, um movimento antigreve na USP deixou de ser virtual (na internet) e passou a promover atos na Cidade Universitária. Já foram feitos dois protestos e outro está marcado para quinta.

Entre estudantes descontentes com sucessivas greves, há também dois grupos virtuais organizados, que participam ou organizam a mobilização.

O maior, denominado CDIE (Comissão para Defesa dos Interesses Estudantis da USP), existe desde abril deste ano e conta com 665 membros na comunidade do Orkut. Ele é responsável por um abaixo-assinado contra a greve, que já reúne 3.000 assinaturas, segundo os organizadores.

O mais recente, denominado Flacusp (Forças de Libertação Anticomunistas da USP), foi criado no Orkut no dia 8 e tem 107 membros virtuais "selecionados", afirma Leandro, 23, um dos participantes (ele não quis dar o sobrenome nem dizer a qual curso pertence).

Leandro classifica os atos do movimento grevista como "balbúrdia" e diz preferir a ditadura. "A ditadura impõe a ordem, não deixa essa zona acontecer."

O jovem era um dos participantes de um protesto antigreve que ocorreu na última sexta de manhã na USP e reuniu 80 estudantes. Na mesma noite, outra manifestação contra a paralisação reuniu cerca de 300 pessoas. Nos dois protestos, houve confrontos com grevistas, xingamentos e discussão. Antigrevistas afirmam ter sido vítimas de chutes e socos.

Nos protestos, estudantes contra a greve pediam a volta do "bandejão" e do "ônibus circular". Os grevistas chamavam o grupo de "fascista". O próximo ato antigreve será quinta, às 12h30, em frente à FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade)."

quarta-feira, 22 de julho de 2009

784.0981^U555v^1997

- Esse é o código que você tem que encontrar.
E seu olhar se arrastou pela aquela imensa biblioteca. Parecia ser um árduo trabalho.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Idade

Ele saiu para comprar pão. Estava no último degrau da longa escada e se lembrou: esquecera a bengala. Penosamente, voltou e logo saiu.
Chegando à padaria pediu dois pães, pagou e deixou o lugar. Um fusca com o escapamento ruim passou e fez um estrondo. Seu coração parou.
O bom de viver em uma cidade como essa é que nunca se distingue a diferença entre um escapamento e um tiro de revólver.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sério?

A seriedade é algo muito sério e que merce muita reflexão.
É sério!
Pode parecer que eu estou brincando, mas eu não estou!
Estou falando seríssimo!
A seriedade é coisa séria.
Se usamos ironia em uma conversa séria, aconversa já perde boa parte da sua seriedade.
Mas convenhamos: qual a graça de uma conversa sem ironia?
A seriedade nem é algo tão sério assim...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

You and me

Você está sentada. Você está olhando para o infinito. Você nem nota a minha presença. Pelo menos não aparenta notar.
Eu me aproximo. Você ainda está com o olhar petrificado nas nuvens. Eu te observo, pensando no que fazer. Você parece ter preocupações mais sérias. Às vezes acho que sou um idiota, me preocupando tanto assim com você.
Você parece triste. Na verdade não sei bem se é essa a expressão. Não sei se você se sente triste. Sua expressão é difícil de descrever.
Você olha de canto e me vê. Me cumprimenta com um sinal, mas não fala nada. Me sento ao seu lado. Você continua a olhar para o infinito. Acho que tentando suportar a sua dor.
Envolvo você nos meus braços em um longo abraço. Você não demonstra gostar e nem desgostar. Apenas aceita. E continua a olhar o infinito.
Ah, se você soubesse minhas reais intenções. Será que você ficaria assim, com tanta falta de reação?
Vejo uma lágrima escorrer pelo seu rosto... O que ela significaria?
Queria poder te ajudar.
Mas você insiste em dizer que não precisa e nem quer minha ajuda.
E nesses momentos em que você diz isso, eu percebo que você sou eu.

sábado, 27 de junho de 2009

Questão de ídolos

- Mãe, me dá um Chico Buarque de presente?
- Tia, eu quero um Fantasma da Ópera.
- Alguém me explica porque não existem homens como o Al Pacino próximos de nós?

Quando isso vai parar?

Da série diálogos

- Ai de mim
- Que coisa mais shakeaspereana...
- O que você quer de mim?
- Naturalidade, talvez? Ou é pedir demais?
- Meu trabalho é o exagero...
- Você deve ganhar muito com isso.
- Deixe-me! Não vê que sofro?
- E eu com isso?
- Se você quisesse me ajudar a superar tudo, sairia.
- Mas não quero.
- E eu posso ao menos saber o porquê?
- Arque com as consequências de suas escolhas!
- É o que estou tentando fazer, com licença?
- Uma das suas escolhas foi fazer de mim sua amiga. Não saio.
- Você deve me odiar, não é possível!
- É você quem diz que amor e ódio estão sempre muito próximos.
- Como?
- Nada...
- Você é muito fraca às vezes...
- Olha quem fala... O senhor estatelado no chão, gemendo só porque levou um fora.
- Pelo menos eu ajo mais do que você
- Você é um idiota.

Apenas mais uma loucura

E ele sorriu.
Na última fileira do ônibus, um em cada ponta.
Era assim que a vida os carregava.
Sempre separados de qualquer outra pessoa.
E eles nunca reclamaram.
Louco foi aquele que ousou sentar entre eles.
A distância era muita, mas um obstáculo tudo mudava.
E o sorriso sumiu.


- é apenas mais uma pessoa triste no mundo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Cartas de Amor são falsas, não seriam cartas de amor se não fossem falsas

Sabe o que eu queria?
Queria poder te abraçar
sem acharem que estou dando em cima de você...

Queria poder encostar no seu ombro
e chorar
sem você ter que me perguntar o que está acontecendo...

Queria poder ficar em silêncio
sem você se sentir desconfortável...

Queria que você não se incomodasse
quando eu não olhasse pra você...

Queria que você simplesmente acordasse
e visse que eu não olho pra você porque é doloroso demais.
Cada vez que meu olhar sem vida e sem graça encontra com o seu olhar tão brincalhão e belo meu coração se aperta e começa a lamentar.

Queria que você percebesse
que texto piegas não é coisa minha
e que isso é sim pra você.

domingo, 14 de junho de 2009

A flor e a USP

Preso à universidade e às minhas idéias

Vou atento pela rua cinzenta

Polícias, políticos espreitam-me.

Devo seguir até o enjôo?

Posso, com flores, revoltar-me?

Olhos sujos na torre do relógio:

Não, o tempo não chegou de completa justiça.

O tempo é ainda de merda, maus poemas, manifestações e espera.

O tempo pobre, o poeta pobre

Fundem-se no mesmo impasse

Em vão tento me explicar, os adultos são surdos.

Sob a pele das palavras há cifras e códigos

O sol consola os que tem frio e não os renova.

As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase

Vomitar essa revolta sobre a cidade.

Setenta e cinco anos e nenhum problema

Resolvido, tantos colocados.

Várias cartas escritas e recebidas

Todos seus estudantes voltam pra casa

Estão menos livres, pois leram jornais

E deturpam o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da usp, como perdoa-los?

Tomei parte em muitos, outros escondi

Alguns achei belos, foram publicados.

Crimes suaves, que não ajudam a viver

Ração diária de erro, distribuída para matar

Os ferozes jornalistas do mal

Os ferozes políticos do mal

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim

Ao menino de 1968 chamavam revolucionário

Porém meu ódio é o melhor de mim

Com ele me salvo

E dou a poucos uma esperança mínima

Uma flor nasceu na rua!

Passem longe circulares, pms, suely

Uma flor ainda desbotada

Iluda a polícia (que se protege com escudos), rompe o asfalto

Não façam silêncio, prestem atenção, tirem fotos

Garanto que uma flor nasceu

Sua cor não se percebe

Suas pétalas não se abrem

Seu nome não está nos livros

É feia. Mas é realmente uma flor

Sento-me no chão do campus às cinco horas da tarde

e lentamente passo a mão nessa forma insegura.

Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.

Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.

É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, a revolta, a desprezo e o ódio.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Sobre a Universidade de São Paulo e a sua relação com as outras cidades do Brasil (ou simplesmente São Paulo)

para os assíduos frequentadores desse blog (fim da ironia): vocês bem sabem que pouco do que escrevo é retirado da minha vida ou da minha relação com as coisas e pessoas... Não sou poeta, não suspendo o presente, como diriam os críticos literários. Não sou repórter, não retrato a realidade (eu disse fim da ironia?). Não sou ninguém para ficar aos quatro ventos dando a minha opinião, mas esse momento é um momento que minha opinião não pode ficar escondida.



A Cidade Universitária foi invadida!

Não (apenas) pela PM, mas pela ignorância de seus "habitantes".
Sou uma imigrante recente, como todo primeiro anista e ainda não me acostumei com muitas das peculiaridades da cidade. Mesmo assim, como cidadã desse país me vejo na obrigação de me informar a respeito de tudo que nela ocorre.
Acontece que a reitora (prefeita de uma cidade nos padrões mais conhecidos, porém não podemos dizer normais, não é mesmo?) chamou a polícia militar para conter o que chamamos de piquete, que segundo ela (e mais algumas pessoas) é ilegal. O piquete, porém, não é de todo ruim, já que na teoria, não passa de uma discussão. Errado ou não, legal ou não, a reitora chamou a PM e deu força aos três movimentos sociais que já estavam inquietos lá na cidade (onde já se viu cidade com três movimentos sociais apenas?).
Eu, como imigrante vinda de São Paulo, sem uma opinião política certa (minha opinião varia conforme o momento político e social vivenciado) me posicionava contra a greve dos estudantes. Eu acreditava que nossas pautas (UNIVESP, REPRESSÃO E CORTA DE VERBA PARA A EDUCAÇÃO) podiam ser resolvidas sem a necessidade de uma greve. Temos a imprensa, que apesar de não estar do nosso lado, pode ouvir o que temos a dizer e repassar. Ri da minha ingenuidade.
Ri mesmo. E eu pensava que eu era realista. A UNIVESP é um projeto de ensino à distância que precisa de muita melhora e aprimoramento antes de ser aprovado. Só porque é um projeto barato e estamos em um ano de crise quer dizer que ele pode ser aprovado? Não pode não! Mas quem nos escuta? Somos apenas a elite que não quer ver a educação para todos. Ridículo. A quem puder interessar, o Movimento Estudantil (ME) está a procura de um projeto para contrapor à UNIVESP.
As outras pautas, apesar de concordar, não são tão fortes quanto a primeira. Ta, vai, estamos num ano de crise, todo mundo vai pagar e bla bla bla... Não deveríamos, mas vamos... e a repressão contra os movimentos sociais em geral, que depois de terça-feira (9/6) se mostrou mais evidente ainda.
Estou ainda inconformada com a violência da polícia, com a parcialidade da imprensa e com a facilidade da população em ser manipulada. O que fazer para mudar isso?
Olha, não sei mais. Mas eu ainda quero uma imprensa do Movimento Estudantil. Para que parem que achar que somos um bando de filhinhos de papai idiotas que não tem mais o que fazer e fica procurando pelo em ovo.
Desculpa, mas não da pra estudar assim. Não da pra estudar num prédio precário que nem o da Letras e fingir que está tudo bem. Não da pra ver jovens levando cacetada e falar: eles provocaram, ainda mais se você sabe a verdade. Não da pra ver professores passando mal com gás que a polícia joga sabendo que nem no ato eles estavam.
Violência nunca ajudou ninguém. O que mais vocês precisam saber? Que a senhora reitora de humana não tem nada? Se ela ficasse um dia no lugar de um funcionário ela perceberia que a greve é mais do que justa. Se ela falasse com os professores pra saber o que eles realmente acham do plano carreira, se ela analisasse direito o projeto da UNIVESP. Se ela fosse uma reitora e não uma política pura e simplesmente... Se ela conversasse com a gente perceberia muito do que não percebe. Mas conversar com a gente pra que se somos apenas um bando de baderneiros? Joga a PM em cima!
Ridículo.
fim do desabafo

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Paradigma

Diz a lenda
Dizia lento
Diz que ia, a lenda

muito disse e nada faz

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Viva la revoluciòn

Gritava loucamente
apaixonadamente
gritava pelo ideal em que
acreditava acreditar

se surprendeu quando
descobriu, assim, de repente
que a estavam
a manipular

- é nisso que dá não pensar

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Despedida

O triste foi quando ela percebeu que doía muito mais a falta de reação dele do que seus gritos.
Sempre que ela fazia algo idiota (o que não era raro), ele tinha algo a dizer. E, agora, ela por alguns segundos achou que o magoara. Mas ele sabia que para ele doía bem menos que nela... Se ela quer tanto sofrer, que sofresse. Ele não se importava. Gostava dela, com certeza, mas aprendera desde pequeno que as pessoas vão e vem, que as coisas mudam e é preciso se adaptar à elas.
Ele rapidamente se acostumou com o fato de não tê-la ao seu lado... Conseguia falar nela sem dor nenhuma, já ela... Ela pensava o porquê dessa falta de reação... Porque aquele homem estressado não gritava com ela... E simplesmente não encontrava solução.
Existem diversas formas de se encarar algo...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

ônibus

E lá estava ela. Sentada na última fileira do ônibus. Lotado. No banco da esquerda, ela tinha a visão da rua. E observava a luz nascente do sol no asfalto da rua. Em um relapso ela observou o reflexo de seu fone de ouvido na janela riscada do ônibus. Observou seu cabelo e seu pescoço. Chegou a ver até o contorno fino de seu rosto. Impressionantemente ela não via sua expressão. Tentou forçar por mais um tempo... E nada. E o ônibus entrou nas trevas e ela viu seu sorriso falso. Quando o ônibus saiu do túnel ela perdeu novamente suas feições. Simplesmente porque na luz do sol somos apenas mais alguém, comum, mas quando as luzes se apagam e ninguém nos vê nos tornamos quem realmente somos.

sábado, 16 de maio de 2009

Diário de um aspirante à Danny Zuko

É... Eu costumava comandar as relações...
Sério... Fiquei tentando lembrar qual foi a última vez que eu me submeti às vontades dos outros...
Não que eu seja egoísta ou coisa do gênero... Só que as pessoas parecem gostar de serem comandadas... Acho que da uma certa segurança... Saber que está sendo guiado por alguém em quem confia...
Me chamem de metido ou egocêntrico, tanto faz.
É fato que todos os amigos que fiz me colocavam como um exemplo. Não sei de que, já que fui sempre tão ridículo...
Enfim... O fato é que sempre iniciei relações e sempre coloquei um fim nelas.
E ver você, Amélia, ir embora assim... Não sei nem descrever o que senti. Não, tristeza não é bem a palavra... Não me senti mal por você ir embora... Me senti mal por você mudar assim, de repente meu modo de (sempre) agir.
Que droga. Você não pode me abandonar!
Como vou viver agora? Como vou manter a minha fama de mal?
Depois dessa frase tão old school, acho que é impossível.
Ai, que absurdo!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sobre uma revolta

Você quer uma reação ou apenas um consentimento?
Algum dos dois você tem que querer...
Quer saber, tanto faz
Nem me importo mais.

domingo, 10 de maio de 2009

Receita de como vivi minha vida

Ingredientes:
Sorrisos
Amizades
Alguns amores
Ódio
Medo
Cara de pau
e uma pitada de bom humor

Modo de preparar:
Misture tudo e mande tudo às favas.
Dane-se.
Mande ao inferno!
  Tenha em mente que sua vida é mais complicada que uma receita e se ela der errado você não pode recomeçá-la do zero. E que mesmo as decisões que parecem não ser definitivas, às vezes são mais definitivas do que aparentam.
Perceba que cada palavra que sai da sua boca tem um significado. E que tal significado pode significar outra coisa pra outra pessoa. E que você não pode recolher o que foi dito.

Sirva com  um pouco de falta de ânimo e paciência.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Desejo

Antes de um ato de ser
é viver
mas o ato de viver
passa longe do ser.

Desejo que você seja quem
você quiser ser
que você possa mudar
e viver o amanhã
melhor que hoje.

Desejo que você viva
o suficiente para ser.
desejo que você possa.
feliz

segunda-feira, 4 de maio de 2009

É simplesmente cansativo

Quando sai de casa
depois de um dia... tão cansada!
E vi você tão rosada
imaginando-se tão rodada...
Ahh, eu estava tão cansada

Queria protestar
e ao inferno te atirar,
de um sorriso te privar!
Mas ahh, eu estava tão cansada

Quando eu sair de casa
para um dia preparada
e vir você tão acabada,
escondendo seu olhar
vermelho de chorar,
inchado de tanto se drogar

Vou querer te matar,
Pra sua mãe te entregar
e a verdade nunca te falar!
Mas ahh, eu estarei tão cansada

Cansada de te aguentar,
de fingir ligar
e de tanto me preocupar
Então quer saber?
Aprenda a cuidar da sua vida
que eu vou cuidar da minha
e parar de me cansar

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O poder da imaginação

Ele andava sempre pensando que o pior poderia acontecer.
Criava na sua mente as situações mais embaraçosas e às vezes chegava a confessar a si mesmo que só piorava as coisas agindo assim... Mas nem por isso parava de agir assim.
Imaginava diálogos com as pessoas que teve algum tipo de problema, imaginava longos textos para escrever quando chegasse em casa (e nunca o fazia), imaginava obras geniais... Ele podia ser um grande artista... Se não fosse sua mania de piorar tudo e sua enorme preguiça...
Imaginava altas cenas... De brigas, confusões, amor, ódio, discussões, sexo, de tudo... E acabava esquecendo de viver...
Um dia, enquanto descia a rua ouviu o barulho de um escapamento de uma moto. Caiu no chão desesperado, se contorcendo de dor. E morreu achando que tivesse sido atingido por um tiro.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Declaração

- Eu te amo!
- Não, não ama.
- Como assim? Do que está falando?
- Você ama a pessoa que eu finjo ser...
- E quem seria esse ser maravilhoso e espetacular?
- Ninguém.
- Pensei que fosse você...
- Eu não. Eu não sou absolutamente ninguém. Nem pra você ou pra qualquer outra pessoa!
- Você é só perfeito...
- Como?
- Você me ouviu...
- E você não me ouviu, não é mesmo?
- Ahn?
- Nada.
- Fala!
- Deixa pra lá!
- Nunca vou ignorar o que você tem a dizer!
- Pois deveria!
- E porque?
- Porque tudo o que eu falo é inventado!
- Por quem?
- Pelo amor que sinto por você.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Cansei

Minhas mãos às vezes me enganam... Estou para presenciar o dia que me trairei e todos descobrirão minha farsa. Descobrirão que não sou um ser completo, mas uma série de seres mutilados. Quantas vezes durante esses dias não escrevi coisas que não eram o que meu verdadeiro eu escreveria? Fiz isso durante a minha vida toda - entre redações escolares e cartas à amigos - porque deveria parar agora? Cheguei a tentar parar... Mas isso só serviu para meu "eu interior" - sejá lá quem ele for - ficar mais nervoso, inquieto. Então resolvi que repreendê-lo por tentar dar uma de camaleão não seria nem de longe a solução. E cá estou eu escrevendo algo que depois vai ficar nessa página de internet para que daqui algum tempo a autora possa ler e dizer: ai, como eu fui ridícula. Mas dane-se a autora. O que importa aqui é o eu-lírico. Alguém presta atenção em mim, por favor?

domingo, 12 de abril de 2009

Páscoa

- Ô, seu Moacir, ta com frio? - vira a mãe para o avô que vestia uma blusa de lã.
- Ahn? - respondeu o avô, que tem problema de audição
- O senhor ta com frio?
- Ué, eu não! To agasalhado.

A sabedoria senil.

A casa deles estava em reforma.
- Então o Laerte me chamou pra tomar banho lá na casa dele.
- Ahhh, foi no dia que faltou luz né?
- Nãããão! O que faltou foi água!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Book

Um belo dia para se ler, imaginou.
Para ela sempre era um bom dia para se ler.
Chuvoso? Ler. Ensolarado? Ler. Nublado? Ler, é claro!
Isso contribuía para seu isolamento social. Tinha poucos e escolhidos amigos e muitos, mas também escolhidos, livros. Contava nos dedos as pessoas com quem podia com certeza contar a todo momento e em qualquer situação. Em alguns dias, nesse grupo nem ela constava - mas com certeza o Machado a entenderia.
Anti-socialidade é um grande problema, mas ela gostava de pensar que era uma dádiva.
Ela imaginava que o fato de superar muitas coisas apenas lendo a tornava forte, quando isso a enfraquecia cada vez mais.
Quando morresse, dizia que queria ser enterrada junto com grandes clássicos, mas os cupins já os teria levado.
Clássicos que são clássicos duram para sempre, pensou ela, indignada.
E morreu de desilusão. Afinal, os livros também nos decepcionam.

domingo, 29 de março de 2009

Bem me quer

A menina na porta de casa com vestido de gala e uma rosa vermelha na mão.
A menina na porta de casa com o vestido de gala e uma rosa vermelha na mão e o rosto tampado para esconder a falta da maquiagem.
A menina na porta de casa com vestido de gala e uma rosa vermelha na mão e o rosto tampado para esconder a falta de maquiagem e balançava a flor.
A menina na porta de casa com vestido de gala e uma rosa vermelha na mão e o rosto tampado para esconder a falta de maquiagem balançava a flor e começava a despetalá-la.
A menina na porta de casa com vestido de gala e uma rosa vermelha na mão e o rosto tampado para esconder a falta de maquiagem balança e depetala a flor.
- Mal me quer.
A menina na porta de casa com vestido de gala e uma rosa vermelha na mão e o rosto tampado para esconder a falta de maquiagem atira a flor para longe que é logo atropelada por um carro.
E morre uma ilusão.

sábado, 28 de março de 2009

The sound of music

- Escute, escute!
- O que?
- Você só pode estar louca!
- Não é possível! Só eu estou escutando?
- O que?
- Ela endoidou.
- Lala,lalalalalala, lalalala!
- O que??!
- Realmente enlouqueceu!
- É só a música tentando dar um pouco de sentido a minha vida! Que droga! Vocês nunca vão me entender!
- O que?!
- É melhor irmos embora... Vai que pega...

quinta-feira, 26 de março de 2009

Party time

Dançava a toa ao ritmo do Elvis
One
Two
Three o'clock
Pés sangrando de tanto esforço para imitar o mestre
Four o'clock rock,
Five,
Six
E girando, girando fantasiou sua dança com seu príncipe...
Seven o'clock,
Eight o'clock rock
Nine
Caindo exausta no chão a música muda.
É a realidade que chega sem pedir licença

domingo, 15 de março de 2009

Resíduos da vida

Escrevo neste papel, escrevo muito contente. No momento seguinte o papel é amassado e jogado no chão. Não costumava agir assim; afinal, ainda me lembro dos motivos da minha alfabetização. Eu não poderia, depois de tudo o que passei, permitir que meras palavras me fizessem renunciar a todas as minhas crenças e ideais.
Quando jovem, andava pelas ruas e observava o descaso da população pela natureza. Ela certamente não se preocupava em cuidar da cidade: garrafas e papéis jogados no chão compunham a paisagem. Eu me indignava com tal situação, mas era somente um menino de rua que nada podia fazer.
Descobri, por meio do diálogo entre dois senhores, um programa de coleta seletiva e reciclagem. Fui informado que era necessário saber escrever e, ao me declarar iletrado, disseram que só poderia trabalhar lá se aceitasse participar de um processo de alfabetização de adultos. Concordei e, sempre depois do trabalho, ia falar com o professor; e aquilo se tornou rotina.
Aprendi, sem maiores dificuldades, a ler e a escrever; havia me apaixonado pela língua portuguesa. Os professores ensinavam de Matemática a História, mas Biologia chamou-me a atenção. Logo estava na biblioteca pública pesquisando sobre o meu trabalho cansativo.Conheci de onde vem o papel em que agora escrevo (da celulose presente nas árvores) e que nem tudo que as pessoas jogam fora é lixo.
Não é lixo, pois muito ainda pode ser reaproveitado.Os lixões atrapalham a vida das pessoas, não só a visualização, mas a saúde. Apredi que os aterros sanitários são mais higiênicos e eficazes quando se trata da decomposição dos materiais. Larguei o meu emprego e comecei a recolher todo o "lixo" que via na rua, assim que descobri que alguns bueiros entopem por conta do desrespeito das pessoas.
Cansei-me depois que vi as crianças rindo do meu esforço e resolvi escrever. Redigia belas palavras; minha vida havida sido reciclada, publiquei alguns livros, poemas e logo depois estava jogando para trás o livro da minha vida, o meu ideal, e este não seria reutilizado.

quarta-feira, 11 de março de 2009

True Life

- Um sorriso e eu morro de amor!
- Um oi e me acho o centro do mundo!
- Um abraço e meu coração pula do peito!
- Um beijo e eu surto de paixão!

A verdade é que nada disso é verdade. A verdade é que é tudo feito de mentiras.

terça-feira, 10 de março de 2009

Seis da manhã

Seis da manhã é meu horário preferido...

Os porteiros estão pra trocar de turno,
pois claro já está,
mas o frescor do dia
está apenas a raiar.

Os meus passos sobem a rua - 
sozinhos.
E ecoam pela rua -
sozinhos.

Não escuto nada a não ser meus passos vazios...
Minha voz já não será tão branda,
minha vida já não terá essa calma,
meus ouvidos já terão esquecido o sabor do meu sapato no chão...

Seis horas da manhã é meu horário preferido do dia.

Só escuto meus passos
e ninguém a reclamar.
Só escuto meus pensamentos
ainda matinais a pensar...

Ao meu ritmo
- sonolento ritmo -
subo a rua na companhia do soar de passos.

Seis horas da manhã é meu horário favorito do dia...

simplesmente porque
é a única hora que aprovo 
a direção para que os passos me levam.

domingo, 8 de março de 2009

25 de março

Sentou na calçada esperando que o sol diminuisse sua fervura. Nem ao menos um sinal de uma brisa, morna que fosse; nada. Imaginou-se na chuva, soterrado de água, por mais improvável que fosse, preferia estar nas águas do rio Tietê.
Respirou fundo com o ar quente machucando seus pulmões e resolveu procurar uma sombra, mas ao meio-dia elas são alucinações. Nenhum sinal do seu ônibus. A idéia de pegar o transporte abafado, a idéia de passar uma hora - sendo otimista - lá naquele calor o fez pensar no tão querido inverno.
Ah, o inverno. Sua cabeça era mais leve no inverno, ou melhor, menos quente. Se irritava menos, estava no fundo, mais feliz.
E finda o verão.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Do you wanna dance?

Música eletrônica. A maior festa. Ninguém escuta nada exceto as batidas frenéticas.
Rock. A maior zona. Ninguém escuta nada exceto os gritos de revolução.
Bossa nova. O maior romance. Ninguém escuta nada exceto as batidas dos corações apaixonados.
Um concerto. A maior intelectualidade. Ninguém escuta nada exceto o suor do maestro no suporte da partitura.
Um errado. A maior tristeza. Ele não escuta o mundo porque está errado.

domingo, 1 de março de 2009

Lendo o futuro

O ônibus corria e sua mente estava em alguma esquina. Já fora atropelada pelas rodas enlouquecidas daquele ônibus.
O dia mal se levantara e pelo visto o motorista só fizera isso e esquecera de acordar.
Era sempre uma emoção fazer aquele caminho.
Mas ele nem se incomodava mais... Chegava a ser prazeroso o pra lá e pra cá... Quase um cerimonial.
Estranho foi o dia que o ônibus não parou de solavanco e não jogou os passageiros em cima uns dos outros sequer uma vez. E aquele dia foi o mais bizarro da sua vida.
Talvez o ônibus tenha sido um preságio.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Peça

O porquê:
tenho reparado que sou muito repetitiva no que digo (nossa, novidade?) e percebi que no que escrevo também. As temáticas por mais que variem são sempre trabalhadas em um mesmo tipo de texto. Geralmente curto, mas bastante descritivo. Resolvi tentar fazer uma peça. Pela primeira vez na minha vida, aos 17 anos eu faço uma peça, portanto façam o favor de rir, porque está bem tosca... Parece feito por uma criança, mas tudo bem... 

A peça: 


Cena I

 

Escuridão. Som de um forte temporal. Ouvem-se raios e trovões.

Uma luz aparece ao fundo do palco.

Ilumina-se uma pessoa encoberta por uma capa preta. Ela caminha em direção à luz.

 

Pessoa:

- Lá! Lá não está chovendo... Vamos, Ricardo.

 

Ilumina-se o vazio.

 

Ricardo:

- Tudo bem, mas o que faremos quando chegarmos lá?

 

Pessoa:

- Você sabe que não sou de fazer planos...

 

Ricardo:

- Então porque quer ir para lá?

 

Pessoa:

- Lá deve ser um lugar melhor... Afinal, lá não está chovendo...

 

Ricardo:

- Lá vem você com os seus estereótipos...

 

Pessoa:

- Não é um estereótipo... Deus já nos castigou assim, com chuva, uma vez.

 

Ricardo:

- Não sabia que ele tinha tão pouca criatividade.

 

Pessoa:

- Isso! Brinca mesmo com a Santíssima Trindade!

 

Ricardo:

- Você quer dizer divindade?

 

Pessoa:

- Quem é você para dizer o que quis dizer?

 

Ricardo:

- Agora esqueceu quem sou?

 

Pessoa:

- Algum dia soube?

 

Ricardo:

- É melhor fingir que não mesmo...

 

Pessoa:

- Você me confunde.

 

Ricardo:

- Você se confunde.

 

Pessoa:

- Pare de falar e ande mais rápido.

 

Ricardo:

- Mas estou na sua frente.

 

Pessoa:

- Tanto faz.

 

Ricardo:

- Sempre sonhei em te beijar na chuva... Mas você fica tão brava molhada que eu realmente fico com medo...

 

Pessoa:

- Não é a chuva,

 

Ricardo:

- São as lembranças que ela te traz. É, eu sei, você já disse isso.

 

Pessoa:

- Você não acredita, acredita?

 

Ricardo:

- Porque não?

 

Pessoa:

- Porque não deveria.

 

Ricardo:

- Se não é a chuva e não são as lembranças, o que é?

 

Pessoa:

- Ricardo! – param de andar e apagam-se as luzes, exceto a ao fundo do palco – Ricardo! É você Ricardo!

 

Som de chuva recomeça mais forte.

 

Cena II

 

Ilumina-se o palco todo, exceto o canto onde a nossa personagem encontra-se deitada.

Ouve-se uma terceira voz:

 

- De novo essa história de Ricardo? Assim vou achar que você está me traindo, Larissa.

 

 

Larissa levanta esfregando os olhos e tateia uma parte clara do palco como se procurasse um abajur. Ela faz como se o ascendesse e é iluminada.

 

Larissa:

- Trair-te? Com quem, amor?

Boceja.

 

Terceira voz:

- Com esse Ricardo com quem tanto sonha. Posso saber quem ele é?

 

Larissa:

- Mas é você, bem.

 

Terceira voz:

- Meu nome não é Ricardo.

 

Larissa:

- Como não?

 

Terceira voz:

- Ou você me fala quem é esse tal de Ricardo ou você nunca mais verá a luz do dia.

 

Larissa:

- Amor? Amor? O que deu em você?

 

Apagam-se as luzes.

 

Cena III

 

Canto oposto do que foi realizada a última cena. O Amor, o Ódio e o Ciúme.

 

Ilumina-se o Amor que está sentado em uma penteadeira, admirando-se.

 

Amor:

- Eu sou perfeito e, assim mesmo as pessoas dão meu nome a todos que conhecem...

 

Ódio:

- Pare de se amar tanto, você não passa de uma ilusão.

 

Amor:

- Então você deve ser louco para estar aqui, falando comigo, não é querido Ódio?

 

Ciúme:

- Porque você o chamou de querido? Ele te maltrata e eu... Eu que sempre fui bom para você...

 

Amor:

- Só disse isso porque não consigo odiá-lo... Sou tão perfeito que só tenho amor no coração.

 

Ódio:

- Egocêntrico maldito!

 

Apagam-se as luzes.

 

Cena IV

 

Som de chuva, um pouco mais branda que a inicial.

 

Pessoa:

- Ah, a chuva está amena agora...

 

Ricardo:

- E você?

 

Pessoa:

- O que?

 

Ricardo:

- Está melhor?

 

Pessoa:

- Do que você está falando?

 

Ricardo:

- Você tem sérios problemas e é melhor trata-los logo...

 

Ilumina-se todo o palco e Larissa aparece correndo em direção à Pessoa de capa. Ricardo permanece invisível.

 

Larissa:

- Ele descobriu tudo!!

 

Ricardo:

- Que você é louca?

 

Pessoa:

- Cale-se! – apenas para Ricardo – ela não pode saber disso!

 

Larissa:

- Ele... Ele sabe sobre o Ricardo...

 

Pessoa:

- Então conte toda a verdade!

 

Larissa:

- Não poderia suportar tamanha vergonha.

 

Ricardo:

- Se você não fizer isso, eu farei!

 

Pessoa:

- Isso! Nós faremos!

 

Larissa:

- Tudo bem... Tentarei fazer isso... Mas e se eu não conseguir?

 

Ricardo:

- Que você apodreça por todos os crimes que cometeu!

 

Apagam-se as luzes.

 

Cena V

 

Larissa:

- Ricardo, Ricardo!

 

Terceira voz:

- E afinal quem é ele?

 

Larissa:

- Ele é... Ele é... Meu..

 

Terceira voz:

- Vamos, diga!

 

Larissa tem um ataque de tosse e o proprietário da terceira voz surge com uma faca.

 

Apagam-se as luzes e ouvem-se gritos.

Acendem-se novamente e Larissa se encontra com Pessoa e Ricardo novamente.

 

Ricardo:

- Parece que acabou tendo que pagar...

 

Pessoa:

- Ninguém mais respeita os loucos hoje em dia.

 

Larissa:

- Quem?

 

Pessoa:

- Vamos... Lá não está chovendo.

 

Ricardo:

- E parece que tudo começa de novo.

 

Cena VI

 

Chegam ao lugar seco e lá encontram o Amor, o Ódio e o Ciúme.

 

Amor:

- Ah, que belo dia... Também... Pudera! Eu estou aqui!

 

Ricardo:

- Nossa, que patético... Você achava que aqui era um lugar melhor?

 

Pessoa:

- Pelo menos não está chovendo...

 

Larissa senta em uma pedra a lado da penteadeira do Amor e fica o observando.

 

Ódio:

- Se esse tal de Amor não ficar quieto eu o mato!

 

Ricardo:

- Agora as coisas estão ficando mais interessantes!

 

Ciúme:

- Porque você fica prestando atenção no que ele diz? O Ódio dele só tem um alvo principal!

 

Ricardo:

- Que obviamente não é você.

 

Ciúme:

- Sim, eu sou excluído, mas precisa jogar na minha cara? Aliás, quem está falando comigo?

 

Ricardo:

- E isso importa? Pensei que só a verdade importasse...

 

Ciúme:

- A verdade não importa mais para mim... Todos a superestimam agora...

 

Larissa:

- Você é lindo, perfeito!

 

Amor:

- É, eu sei.

 

Larissa – enfeitiçada:

- Posso me jogar ao seu colo?

 

Amor:

- Nunca me pediram permissão para tal coisa. Pode, claro!

 

Ricardo:

- Deixa de ser boba, garota! Ele é apenas um sentimento...

 

Larissa:

- Ah, Ricardo... Cala a boca!

 

Pessoa:

- Esse Ricardo me tira do sério... Ele podia ter deixado a Larissa só para mim, não é mesmo?

 

Ciúme:

- Nossa, você é tão possessiva quanto eu!

 

Pessoa:

- E quem seria você?

 

Ciúme:

- E isso importa? Pensei que só a verdade importasse.

 

Pessoa:

- Nunca ouvi nada tão real.

 

Ódio:

- Ah, que rancor! Que ódio! – que egocentrismo mais digno do Amor – Que cena mais absurda de se ver! Humanos se apaixonado por sentimentos! Alguém previu isso?

 

Ricardo:

- Os românticos, por mais que me doa admitir.

 

Ódio:

- De quem é essa voz?

 

Ricardo:

- E isso importa? Pensei que só a verdade importasse.

 

Ódio:

(ri descontroladamente)

- Em que mundo você vive?

 

Ricardo:

- No interior de um mundo louco. Louquíssimo.

 

Ódio:

- O planeta Terra?

 

Ricardo:

- Não... A cabeça daquela menina ali.

 

Escuridão. Ouvem-se os gritos da Larissa e um último suspiro: Ricardo...