apalavreado
sexta-feira, 31 de julho de 2009
A mulher ideal
terça-feira, 28 de julho de 2009
Esqueser
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Temperança
sábado, 25 de julho de 2009
O grande problema dos aforismos
Fim
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Ridendo Castigat Mores
R entra emburrado e senta ao lado de S
S:- O que há, irmão?
R:- Tive que deixar a Universidade, pq não estou tendo aula!
S:- E o pq isso te deixa tão perturbado?
R:- Estudei tanto para entrar nela: o oásis de todo e qualquer conhecimento... Quase uma ágora...
S:- Você vai perdoar a minha ignorância, mas o que é conhecimento?
R:- São as aulas, tudo aquilo que os professores falam, os textos.
S:- Entendo... Vida e conhecimento são coisas distintas?
R:- São, né... Conhecimento é aquilo que está nos livros, vida é o que vivemos.
S:- Você não vive seu conhecimento?
R faz cara de dúvida.
C entra com um craft escrito “greve” e gritando:- Fora já, fora já daqui!
R:- Ah, lá vem aquele comunista MALA!
C:- Fora já, fora já daqui! Fora PM e a Suely!
S:- Você grita essas palavras querendo atingir a quem?
C:- Fora... É comigo?
S:- Sim, com você.
C:- A todos! Quero que todos saibam pelo que lutamos!
S:- e vocês lutam pela saída da PM e da reitora da onde?
C:- Daqui, ué!
S:- Daqui? Eu não as vejo aqui...
C:- Da USP, eu quero dizer...
S:- E com que autoridade pede a saída de ambas?
C:- Com a autoridade de aluno dessa instituição!
R:- Olha só o discursinho pronto!
S:- E os alunos dessa mesma instituição que querem que elas permaneçam no campus?
R:- É! E a gente?
C:- Eles que façam um movimento...
S:- E o movimento estudantil não é de todos?
C:- Ah, é, né... Só que...
R (gritando):- Ninguém respeita nada!
C:- Seu reaça desgraçado!!
R (para S):- Ta vendo, ta vendo? Vou fundar um Movimento e vocês, comunistas, vão desejar nunca terem falado isso de mim!
R sai batendo os pés.
C:- Eu nem me importo!
S:- Com o que?
C:- Com o que esse aprendiz de reacionário diz!
S:- Peço mil desculpas... Estou velho e minha memória muito falha... Mas o que foi mesmo que ele disse?
C:- ... er... ele disse que... bem, ele disse...
R junta G e vai para a frente de S e C e diz:- Greve?
G:- Não!
R:- Aulas?
G:- Sim!
E o G rapidamente se dispersa.
C:- O que é isso?
R:- Isso, vermelhinho sem cultura, é um flash-mob!
S:- E você saberia me explicar o que é um flash mob?
R:- São manifestações relâmpagos.
S:- E como as descobriu?
R:- Na verdade, eu descobri que isso existia depois daquela manifestação sem calças que teve aqui nos metrôs de SP, sabe...
S:- Ah, sim... Mas um flash mob não é carregado de nenhum valor político-ideológico intrínseco na sua origem?
R:- Não. São pessoas que se reúnem para fazer algo fora do comum...
S:- Então é quase uma obra de arte?
R:- Por ai...
S:- E você torna a manifestação artística, política?
R:- Eles fizeram...
S:- Eles quem?
R olha de um lado para outro, com medo de que o escutem:- Os comunistas!!
S:- Sério?
R:- É! Eles... eles... fizeram isso com... com... a greve! Isso! A greve!
S:- A greve é uma manifestação artística?
R:- É...
C:- Cala boca e vai estudar! Agora sei pq preza tanto pela aula...
R:- Ta vendo como ele me trata?
S:- Como ele te trata?
R:- Assim, com desprezo!
S:- Você considera que o trata com desprezo?
C:- Bem menos do que ele merece.
S:- O que é desprezo para você?
C:- Pra mim é ignorar, mais do que isso, é se mostrar superior.
S:- Então, se você o despreza mais levianamente do que você diz que ele merece; você não é suficientemente superior a ele para dar a quantidade de desprezo digno a ele e às suas ações?
C:- AHN?
S:- Você diz que ele merece mais desprezo do que você reserva a ele, e diz que desprezo é se mostrar superior. Se você não o despreza mais significa que você não é tão superior a ele assim?
C:- Não, você não entendeu. É tudo uma questão de metáfora: nada é o que realmente parece ser. Então, eu só finjo que sou melhor, para me MOSTRAR superior, não ser. Ai ele cai e acaba achando que seu voto não conta ou que não vai fazer diferença.
R:- Então é assim que você transforma a democracia em uma comunistacracia!
S:- Como você pode supor que seu voto não faz diferença no que acontece nessa universidade?
R:- Nada muda! São feitas trezentas assembléias enquanto os comunistas não ganham o que querem.
C:- Você não entende, não é mesmo? É uma estrutura de poder!
S:- Escuta, mas não é contra isso que vocês lutam?
C:- É... Mas temos que nos sujeitar às regras vigentes para fazermos algo. Não podemos partir logo pra revolução.
S:- Não era o que Marx dizia que devia ser feito?
C:- Ah, era, mas, veja bem...
R:- Vocês querem o poder pra vocês.
C:- E todos não queremos?
S:- Com certeza o povo quer.
C:- Nós não tiramos o poder dele.
R:- Só fizeram assembléias longas e chatas para nos afastar.
C:- Sabe política é assim: uns gostam outros odeiam. Mas todos devem participar.
S:- Não participar não é uma escolha válida?
C:- É, mas ai você complica o andamento do governo, quer dizer, da universidade.
S:- De que maneira?
C:- Opinião pública. Ai vem a imprensa falar que são alguns baderneiros...
R:- E não são?
C:- Pode até ser que sejam poucos, mas a revolução começa da minoria!
S:- Pensei que não iam começar com revolução...
C:- É, mas a gente precisa de meios democráticos para conseguir modos legais de se manifestar.
R:- Manifestações não são ilegais... É só vocês não falarem em nome da MINHA Universidade.
S:- È sua?
R:- É claro!
S:- E os outros cidadãos brasileiros?
R:- Quando eles entrarem aqui será deles também.
S:- A universidade não é pública?
R:- Ah, é né... Só que eu que estudo aqui...
S:- E deveria ser diferente?
R:- Claro que não! Eu passei no vestibular! É meu mérito!
S:- Educação por mérito e privilégio é correto?
R:- Ah... Bem...
C:- Por isso eu odeio vocês, de direita! Vocês não têm consciência de que vivem em sociedade!
R:- E vocês ficam só na teoria...
C:- Quando a gente tenta fazer algo tem alguém nos criticando
S:- Se não conseguem fazer nada com crítica, talvez nem deveriam tentar.
C:- Ah, mas nem pra nos ajudar...
S:- E qual o primeiro passo que eles devem dar para ajudar vocês?
C:- Não sei...
R:- eu não faço nada pra ajudar esses vermelhinhos...
S:- Que tal vocês conversarem bastante?
R:- Para que?
C:- É! Pra que? O movimento vai super bem sem eles!
S:- Não é o que parece. Não acham que se houver o diálogo entre vocês, você (olha pro reaça) poderia fazer com que eles parassem de falar em seu nome, sobre coisas que não acredita e voltar a ter aula?
R:- Sim
S: - E você (pro comunista) não acha que assim poderia modificar o modo que está a cada dia se provando mais ineficiente, pois pouco consegue atingir as pessoas dentro e fora da universidade?
C:- Sim
S:- Pode beijar a noiva.
Carta Aberta (23/06/09)
Tendo plena noção de que esta carta tem pouquíssima chance de ser publicada em algum meio de comunicação mais influente, a inicio com uma crítica justamente ao escasso espaço destinado às opiniões dos cidadãos dessa sociedade.
O quão triste é ler um jornal, uma revista, ou até mesmo um blog com pretensões jornalísticas com vários espaços destinados a uma mesma idéia? Fiquei bastante chateada, principalmente porque costumava acreditar que as pautas que impulsionam o Movimento Estudantil (ME) na Universidade de São Paulo (USP) atualmente poderiam ser resolvidas pelo diálogo, que os estudantes podiam inserir suas idéias na mídia e dizer o porquê de se colocarem contra, por exemplo, a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP).
O que a nossa reitora professora doutora Suely Vilela mostrou no momento em que permitiu que a Polícia Militar (PM) entrasse no campus Butantã da USP foi que esse diálogo não iria acontecer. Confesso que só então mudei a minha opinião e me posicionei a favor da greve, pois realmente acreditava – como estudante de Letras – na conversa.
A polícia foi sim chamada para cumprir um processo de reintegração de posse, mas é importante que pensemos nos motivos pelos quais os funcionários faziam os piquetes e até que ponto eles interferiam no direito das pessoas de ir e vir, já que eles não eram violentos e eram feitos através de conversa. Mais importante ainda é pensar na reação de todos os outros “habitantes” da “cidade Universitária”: a polícia lá causou muito desconforto.
Além disso, é muito importante que lembremos que a USP foi criada para ser autônoma e quando a reitora chama a PM ela inverte os poderes da Universidade e mostra a sua submissão ao governo. Existe a polícia do campus que podia lidar com esta situação. Fazendo isso, a reitora se destituiu do cargo, sendo assim, eu não me sinto mais representada por ela.
No dia nove de julho (09/06) estava programado um ato de estudantes, funcionários e alguns professores das faculdades estaduais (USP, UNESP e UNICAMP) no portão um do campus Butantã. A polícia estava em posição de choque e a ato se restringiu a palavras de ordem como: “Fora PM”, “Fora Suely”, “A culpa é sua, hoje a aula é na rua”, “Conhecimento sim, polícia armada não” – com os livros levantados, “Quem não pula é PM” e outras palavras que podem ter soado um pouco mais agressivas como quando chamavam os policiais de coxinhas.
Um desentendimento entre os manifestantes na hora de encerrar o ato acabou fazendo com que o movimento se dispersasse. Se houve ou não provocação por meio de alguns manifestantes não é exatamente o caso, mas supondo que este realmente aconteceu veja a generalização que a mídia fez dizendo que “o movimento estudantil é isso ou aquilo” e que “isso não é estudante, estudante é aquele que está na sala estudando” (e não defendendo o seu ideal de Universidade e seu local de estudo).
A polícia reagiu às (possíveis) provocações de um determinado grupo e, segundo as notícias divulgadas, fez isso apenas para dispersar o movimento – que já estava disperso. A correria se estendeu até o prédio da História e Geografia onde estava acontecendo uma reunião da Associação Docente da USP (ADUSP). Ao ser informada e perceber o que estava acontecendo a diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas desceu do prédio para conversar com os policiais que atiravam bombas de efeito (i) moral e de gás lacrimogêneo dentro do prédio quando foi bombardeada[1].
Os fatos decorrentes dessa entrada da PM comprovaram ainda mais a relutância da reitora e do governo em que esse diálogo acontecesse: as negociações com o FÓRUM DAS SEIS permaneciam fechadas e a imprensa se mostrava cada vez mais parcial. Confesso que isso me deixou muito chateada e pouco esperançosa. Cartas de diversos professores das mais variadas faculdades e universidades rodaram entre os e-mails dos estudantes e alguns chegaram à mídia, mas esta não manifestou interesse em publicá-las (salvo algumas como a carta do professor Safatle, do departamento de filosofia da FFLCH).
Hoje, uma semana antes do término das aulas na Universidade, a situação é outra. As negociações foram reabertas, a polícia foi retirada do campus nos dias de negociações (e os piquetes suspensos). Ou seja, a reitoria está se abrindo para o diálogo novamente.
A questão que mais me preocupa é: e se a reitora, o governo e a imprensa conversar com os funcionários, com os professores e se “esquecerem” dos estudantes pois são um “bando de baderneiros que tem é que estudar”?
Não devemos deixar que o movimento morra e muito menos nos esquecermos de uma das nossas principais pautas: a UNIVESP. O projeto da Universidade Virtual tem uma maquiagem democrática de acesso à educação, porém, ela acaba formando um círculo de precarização cada vez maior, uma vez que é um curso feito para suprir as vagas para professores da escola pública.
Falando pelo prédio de Letras, que não possui salas e cadeiras suficientes para sequer o ensino presencial, que infra-estrutura ele teria para receber o equipamento para o ensino à distância?
Mesmo que o projeto da UNIVESP não possuísse nenhuma falha, é preciso que se melhore o ensino presencial, aumente o número da vagas do mesmo para então aplicar um ensino à distância, caso contrário, se criará um ensino à distância precário. É importante lembrar, porém, que “estudante é aquele que está na sala de aula estudando”, segundo a mídia. Então pensaríamos: o ensino à distância faz com que a pessoa seja estudante?
Brincadeiras à parte, eu acredito, como futura professora, que a educação está além da sala de aula, está na convivência, na própria vivência com o Movimento Estudantil. O ensino à distância deveria ser aplicado como especialização e não como um curso de licenciatura, já que o contato professor-aluno, aluno-aluno se aprende muito com a vivência.
Escrevo hoje essa carta à comunidade, apenas como um desabafo. Acredito que para muitos estudantes será apenas uma repetição do que foi dito em assembléias e lido em fóruns de discussão, mas aparentemente, para a mídia isso é novidade.
Queria também manifestar meu repúdio aos atos abertamente antidemocráticos[2] que estão acontecendo, meu repúdio à parcialidade da mídia e principalmente meu apoio a qualquer pessoa ou movimento que esteja à procura de diálogo para fazermos do ME um movimento que possua forças para construir uma Universidade melhor.
Paula de Camargo Penteado
Letras – USP
23/06/09
[1]“Comunicado da Direção da Faculdade de Filosodia, Letras e Ciências Humanas
1. Por volta das 17hs, mesmo com a tentativa de mediação da direção da FFLCH junto ao comandante do efetivo da PM, bombas de efeito moral foram atiradas sobre o estacionamento do prédio de Geografia e História, tendo seus gases invadido o edifício, onde se encontravam muitos professores, alunos e funcionários de nossa unidade.
2. Independente das causas que tenham originado tal atitude, esta se constituiu numa agressão física e moral à Faculdade. Não podemos aceitar passivamente um ato violento que agrida um espaço que foi constituído para o pensamento e reflexão.
3. Inquieta-nos o fato de ser a primeira agressão direta sofrida pela faculdade desde 1968. Acreditamos ser urgente encontrar formas de reabrir o diálogo de modo a permitir que os meios tradicionais e próprios da comunidade universitária de resolver conflitos se imponham sobre a força.
4. A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas em seus 75 anos de história conseguiu se transformar num patrimônio cultural do Brasil. É responsabilidade de todos nós, professores, alunos e funcionários da USP, encontrarmos meios deafastar todas as formas de violências do campus para preservar a Universidade como um espaço plural e democrático de geração e transmissão do saber.
Profa. Dra. Sandra Margarida Nitrini
Diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas”
[2] " Grupos antigreve marcam novo ato na USP
Terceiro protesto contra a paralisação foi marcado para a próxima quinta-feira, em frente à Faculdade de Economia
Um dos grupos tem 665 membros na comunidade do Orkut e diz ter reunido 3.000 adesões em abaixo-assinado contra a paralisação na USP
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos últimos dias, um movimento antigreve na USP deixou de ser virtual (na internet) e passou a promover atos na Cidade Universitária. Já foram feitos dois protestos e outro está marcado para quinta.
Entre estudantes descontentes com sucessivas greves, há também dois grupos virtuais organizados, que participam ou organizam a mobilização.
O maior, denominado CDIE (Comissão para Defesa dos Interesses Estudantis da USP), existe desde abril deste ano e conta com 665 membros na comunidade do Orkut. Ele é responsável por um abaixo-assinado contra a greve, que já reúne 3.000 assinaturas, segundo os organizadores.
O mais recente, denominado Flacusp (Forças de Libertação Anticomunistas da USP), foi criado no Orkut no dia 8 e tem 107 membros virtuais "selecionados", afirma Leandro, 23, um dos participantes (ele não quis dar o sobrenome nem dizer a qual curso pertence).
Leandro classifica os atos do movimento grevista como "balbúrdia" e diz preferir a ditadura. "A ditadura impõe a ordem, não deixa essa zona acontecer."
O jovem era um dos participantes de um protesto antigreve que ocorreu na última sexta de manhã na USP e reuniu 80 estudantes. Na mesma noite, outra manifestação contra a paralisação reuniu cerca de 300 pessoas. Nos dois protestos, houve confrontos com grevistas, xingamentos e discussão. Antigrevistas afirmam ter sido vítimas de chutes e socos.
Nos protestos, estudantes contra a greve pediam a volta do "bandejão" e do "ônibus circular". Os grevistas chamavam o grupo de "fascista". O próximo ato antigreve será quinta, às 12h30, em frente à FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade)."