apalavreado

adj.m. 1.aquele que não consegue descrever com palavras, 2. eu, 3. você, 4. os humanos em geral

domingo, 27 de dezembro de 2009

Árdua Ditadura

Do homem deitado sobre o capô daquele carro eu não me lembrava sequer do nome. Das pessoas a minha volta eu sequer queria saber o nome, só sabia que aquela situação muito me incomodava. Tentava me desviar dos flashes das máquinas de tantos jornalistas que por mais que quisessem relatar que estava me defendendo, defendendo a minha integridade física e moral, iam me taxar de criminosa. Começava a imaginar as manchetes do jornal do dia seguinte e entrava em pânico.
Eles seguravam meus pulsos fortemente contra meu peito e me prensavam contra o carro. Estava começando a me sentir invadida e a achar que aquilo não era procedimento padrão. Quando todos dispersaram, um deles me levou a um carro e disse aos outros que ia fazer uma paradinha antes de irmos ao nosso destino final. Todos riram. Comecei a tremer de medo.
Estava algemada e assim ele me manteve, afinal, ele vira o que tinha acontecido com o último babaca que tentara esse tipo de coisa. Ele fez coisas inimagináveis comigo e eu só conseguia pensar o quanto queria matá-lo. Por estar me estuprando, mas - pode me chamar de falsa, podem duvidar de mim - estava ainda mais brava por ele e todos seus amigos terem estuprado não apenas a minha liberdade, mas a de todos os cidadãos dessa nação.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

És dor.

Ela entrou pela porta e a bateu sem nem pensar em trancá-la. Entrou no quarto tomando a mesma atitude e, se despindo, entrou no chuveiro. A água quente - absurdamente quente - ia escorrendo pelo corpo dela e ela, apoiando-se nas gélidas paredes do chuveiro, escorregou-se para o chão.

Com as pernas pressionadas contra o peito, ela ficou, estagnada. De olhos fechados e com as mãos os fechando ainda mais, ela parecia perdida. A água estava muito quente e, apesar de a estar ferindo, ela não queria se mover. Ficava lá, debaixo daquele chuveiro forte, encostada na parede gelada de seu banheiro. Assim ficou por horas.

Não sei dizer o que ela estava pensando, mas mesmo naquela posição frágil e vulnerável, ela parecia forte. Isso me impediu de me aproximar dela, pois ela parecia querer superar tudo aquilo sozinha. Eu deixei.

No dia seguinte, me chamando de idiota, bati a cabeça contra o espelho e, deitado no chão, quis morrer por acreditar - por minutos, minutos que poderiam tê-la salvo - que qualquer ser humano pudesse suportar tamanha dor sozinho.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Chico Xavier

- Eu gostaria de entender de onde vem e para onde vai o que escrevo.