apalavreado

adj.m. 1.aquele que não consegue descrever com palavras, 2. eu, 3. você, 4. os humanos em geral

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Quem me dera agora eu tivesse a viola pra contar.

Quando vamos ao cinema, já vamos esperando que o filme nos absorva de uma forma que esqueçamos o que se passa ao nosso redor. Toda a atmosfera do cinema proporciona isso: a escuridão, a tela grande, o silêncio (isso tudo se nenhum chato estiver na sala com um celular – sério, porque as pessoas pararam de usar relógios? – uma boca muito grande, etc).

“Uma noite em 67” parece que vai além dos filmes que nos englobam na história, nos dá vontade de cantar junto com Edu Lobo, chorar ao lado de Gilberto Gil, rir com o Chico Buarque, concordar com as posições políticas de Caetano, discordar de outras, enfim. O filme nos engloba de uma maneira, talvez pela proximidade histórica do fato, que não conseguimos sair dele tão cedo.

Uma letra faz muita diferença, mas no filme a intenção vai além: é um “quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar” mesmo. Como brasileiros, estamos um tanto fatigados de saber o quanto a música brasileira é significativa tanto no sentido artístico quanto no político, mas o filme pontua tudo isso com bastante sensibilidade e sem muitos rodeios.

67 foi um ano caótico, como percebemos hoje, com uma análise dos fatos: uma nova constituição e um ano antes do AI-5. É estranho pensar que, inicialmente, os Festivais nada mais eram que um programa de televisão. Estranho porque a importância que eles tiveram, historica, cultura e politicamente é algo que se expande até os dias de hoje.

Todos os acontecimentos – polêmicos – desse Festival, todas as músicas (que ouvimos até hoje), os sentimentos dos seus autores na época e hoje: tudo isso nos faz ter mais orgulho de ser brasileiros. Diferente de outros documentários, “Uma noite em 67” não é maçante – especialmente se você gosta da MPB da época. O filme é uma relíquia para a nossa cultura, como foram todos os festivais.

Mas ele não é apenas um documentário. Não nos parece que a idéia do filme era apenas nos mostrar como eram os Festivais. A idéia é quase como nos colocar dentro do Teatro Record, dentro da multidão que vaiava Sérgio Ricardo.

Interessante não conseguirmos saber ao certo os motivos das vaias, mas é curioso pensarmos que “Beto bom de bola” era uma das poucas músicas finalistas que não possuíam mensagem política alguma. Além de tudo isso o filme nos da uma consciência do trabalho dos artistas, quer dizer, poucas pessoas sabiam que o responsável pelo arranjo do fim de “Roda-viva” foi Magro, integrante do MPB4.

Por fim, o filme não trata apenas de 67, mas da eclosão desse ano: novos movimentos artísticos, como o Tropicalismo. Como se fosse possível vislumbrar, em 1967, uma mudança radical na música tradicional popular brasileira. E de fato foi possível: houve uma divisão entre a MPB, a bossa nova e o tropicalismo.

Hoje, jogamos tudo no mesmo balde, como se não tivesse diferença entre elas. O fato principal é que talvez essa distinção seja desnecessária, uma vez que todas fazem parte, de forma igualitária, da cultura brasileira. O que se esquece, todavia, é que cada estilo tomava posições políticas determinadas e isso acabava por influenciar a música.

Mas talvez a principal lição que esse documentavida traz consigo é o fato de não se jogar uma viola fora. De fato, nem em época de ditadura, nem em época de suposta democracia, afinal, nunca se sabe quando contar e tratar de assuntos livremente nos pode ser tirado. Como protestar em um ambiente tão hostil a manifestações? Até hoje temos alguns problemas quanto a isso e, assim, sempre teremos a arte.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Run

Juro que não dá pra entender.
Essa correria da cidade.
Todos têm pressa.
E eu
só quero parar.
Parar por um instante,
enquanto todos correm.

Ter divagações.
Sobre essa vida
tão corrida.

Algum dia, bem depois que eu morrer, terão mapeado as temáticas que per-correram nossa época. A minha época.
Ainda bem que não viverei pra ver.

Esse post termina aqui por falta de tempo para finalizá-lo

domingo, 29 de agosto de 2010

agosto

Agosto não passa, se arrasta.