apalavreado

adj.m. 1.aquele que não consegue descrever com palavras, 2. eu, 3. você, 4. os humanos em geral

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Cotidiano

O ônibus estava parado naquele trânsito corriqueiro dos dias da semana lá pelas 18 horas. Era normal. O ônibus lotado, pessoas se apertando, olhares atravessados. Nada parecia diferente.

Do lado de fora uma criança observava o ônibus. Ela esperava sua mãe fechar a loja, observando a palma da mão de uma moça encostada na janela do ônibus.

Era a janela antes da última fileira de acentos.

Tinha um homem logo atrás da mulher. A criança não via nada, exceto a mão espalmada da moça, sua silhueta e a do homem. Estava muito escuro já e a luz de dentro do ônibus estava bem mais fraca que o normal.

A criança podia distinguir poucas coisas, mas pelo que pode ver o homem tinha uma expressão de felicidade e dor.

A mãe pegou a criança pela mão, mas a criança não parecia querer ir embora. Sem olhar para o que seu filho observava a mãe o arrastou para dentro do ônibus.

A rua estava bem mais silenciosa, pensou. A mãe colocou a criança no colo e sentou quando lhe deram lugar. A criança olhava para o fundo do ônibus e viu a mulher da mão na janela. Até hoje a criança acha que viu uma lágrima.

Quando a mulher reparou na criança, tentou desfarçar, mas só conseguia pensar e rezar para que a criança não descobrisse que aquilo era um estupro no meio de um ônibus lotado.

O desconhecido é mais fácil de se notar,mas o porquê só a criança parecia se preocupar era algo que a mulher não pode entender, pelo menos até seu suicídio, no dia seguinte.

3 comentários:

Wallacy disse...

Às vezes nos vemos sem ação diante de certas situações. Nosso costume de ser inerte, imóvel quando percebemos uma situação extrema, acarreta consequências ruins para todos, inclusive para nós, se por acaso tivermos consciência, e ela pesa...

Maria Júlia disse...

Nossa, no meio do texto fica claríssima (tá, não tanto) a situação =/ fiquei espantada, sei lá.

>< mto bom

Bruna Buzzo disse...

Nossa, que triste.
No final do texto, fiquei pensando se seria verdade. Que horror. Não gosto nem de imaginar uma situação assim.